Beatriz Nascimento



Quem foi Beatriz Nascimento? Maria Beatriz Nascimento nasceu em Aracaju, Sergipe, em 17 de julho de 1942. Oitava filha de Rubina Pereira do Nascimento, “dona de casa”, e Francisco Xavier do Nascimento, pedreiro, teve nove irmãos. Assim como milhares de famílias nordestinas¹ da época, migrou para a região Sudeste no ano de 1949, mais precisamente para o Cordovil, bairro do subúrbio carioca.


Porque devemos falar dessa historiadora sergipana? 


Bom, é claro que em nossas vidas temos muito presente um pensamento eurocêntrico e isso demonstra como na maior parte do tempo nos deixamos ser influenciados por modismos e nos esquecemos de pessoas como essa grande historiadora, uma mulher que lutou por aquilo que acreditava e que defendia seu povo. Ao lado de pesquisadores e pesquisadoras negras, fundou o Grupo de Trabalho André Rebouças na Universidade Federal Fluminense (UFF). Entre os anos finais da década de 1970 e o início dos anos 1980, marcou presença na retomada dos movimentos sociais negros organizados, tendo vínculo inclusive com o Movimento Negro Contra a Discriminação Racial (MNUCDR, nome mais tarde reduzido para MNU), fundado em 1978.

Além de toda essa atividade, Nascimento se debruçou em estudar durante duas décadas as formações dos quilombos no Brasil. Segundo o antropólogo Alex Ratts (2006, p. 54),  Beatriz pensava os territórios de resistência de escravizados e seus descendentes de maneira científica, mas também a partir de sua trajetória pessoal e do seu ativismo político antirracista. Nesse sentido, a historiadora sergipana era propositiva ao defender o reconhecimento e a titulação das terras quilombolas, o que aconteceria a partir de 1995.

O pensamento de Beatriz Nascimento foi fundamental para o entendimento das práticas discriminatórias que pesavam e pesam sobre os corpos das mulheres negras, sendo ela um dos expoentes do que hoje é conhecido como Feminismo Negro. A invisibilidade que a mulher negra sofre no ambiente acadêmico se dá também pelo homem branco, mulher branca e até mesmo o homem negro, todos eles não conseguem enxergar a mulher negra no ambiente acadêmico, no papel de intelectual, e isso dificulta a visibilidade que elas deveriam receber, mas que em muitos contextos ainda não recebem, como é o caso de Lélia Gonzalez. Muitos ainda resistem em reconhecer Beatriz Nascimento como uma autora “acadêmica”.

Sofremos com o esquecimento dos (as) autores (as) negros (as) na academia brasileira, acredito ser pertinente nos questionarmos os motivos desse esquecimento e também os impactos causados não apenas na universidade. Na vida da população em geral, é raro vermos pessoas que não estão inseridas no meio acadêmico estarem lendo alguma autora negra e isso tem um impacto muito grande, nossas crianças estão crescendo sem se sentirem representadas por escritores, artistas e em qualquer outro meio.

O esquecimento que a população negra sofre não é apenas em Universidades, mas sim em vários outros meios um esquecimento que ajuda com o embranquecimento que nosso país vem sofrendo desde a sua “descoberta”, algo que devemos abrir nossos olhos e começarmos a frear. O embranquecimento não prejudica apenas a população negra que vive em nosso país, mas também gera sentimentos negativos por qualquer pessoa que não tenha a pele branca e é esse sentimento que devemos manter longe de nossas vidas, de nossas crianças e de nosso país todo.

Beatriz Nascimento lutava diariamente não apenas contra os ataques pelo seu tom de pele, mas também por não se calar e falar aquilo que os “poderosos” não queriam que fosse falado, ela lutou com todas suas forças para defender o que acreditava. Beatriz teve sua vida ceifada pelo companheiro de uma amiga, que em 28 de janeiro de 1995 disparou cinco tiros à queima-roupa contra ela. Contudo, suas contribuições permanecem semeando uma História Antirracista.

 

¹ O Nordeste como espaço territorial foi inventado em 1942 durante o Estado Novo. Fruto da política encabeçada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que estabeleceu a primeira Divisão Regional do Brasil em : Norte, Nordeste, Leste, Sul e Centro-Oeste.


REFERÊNCIAS

Ôrí. Direção de Raquel Gerber. Brasil: Estelar Produções Cinematográficas e Culturais, 1989, vídeo (131 min), colorido. Relançado em 2009, em formato digital. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=g7WaWiOkLLg Acesso: 12 nov. 2021.

RATTS, Alex. Eu sou Atlântica: sobre a trajetória de vida de Beatriz Nascimento. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, Instituto Kuanza, 2007