Quem foi Lélia? Como ela mesma dizia em suas apresentações públicas: “A barra é pesada. Eu sou uma mulher nascida de família pobre. Meu pai era operário, negro. Minha mãe uma índia analfabeta. Tiveram dezoito filhos, e eu sou a décima sétima”.
Lélia nasceu no dia 01 de fevereiro do ano de 1935, em
Belo Horizonte. Seus pais Urcinda Serafim de Almeida e Acácio Joaquim de
Almeida, como já dito antes seus pais eram pessoas simples de origem humilde
que trabalhavam incansavelmente pelo sustento da família. Antes de
prosseguirmos nesta jornada de conhecimento de Lélia gostaria aqui de deixar
claro que não foi possível identificar a etnia correta de dona Urcinda, no
entanto os grupos indígenas que podemos identificar na mesma época são os
tupiniquins, no Espirito Santo e os maxacalis e os krenaks, em Minas Gerais.
Sabendo a origem de Lélia já conseguimos imaginar o quão
difícil foi para essa garotinha crescer em um mundo onde sua cor influencia na
forma como ela será vista e tratada pela sociedade. Ao realizar diversas
leituras sobre Lélia Gonzales e leituras de seus textos como Racismo e
Sexismo na cultura brasileira fica o questionamento de como falar de uma
mulher como ela, qual será a melhor forma de contar seus grandes passos não
apenas em sua vida profissional como também em sua vida pessoal. Tendo isso em
mente gostaria de começar por uma parte da vida de Lélia que causa um choque em
muitas pessoas.
Lélia nem sempre teve o sobrenome Gonzalez, o mesmo veio
após seu casamento com Luiz Carlos Gonzalez após o suicídio de seu marido Lélia
decidiu manter o Gonzales em homenagem ao seu amado que mesmo sendo um homem
branco de origem espanhola sempre apoiou sua esposa, o motivo de seu suicídio é
uma prova de como ele a aceitava e lhe dava todo o apoio na questão racial, a
família dele já não apoiava o relacionamento antes do casamento chegaram a
acreditar que os dois viviam uma relação de concubinagem e após o casamento
passaram a tornar a vida de Luiz Carlos e Lélia um verdadeiro inferno. Foi
nesse momento na vida de Lélia que ela teve um choque grande em sua trajetória,
pois para família de seu marido estava tudo bem se ela fosse apenas a mulher
que satisfaria os desejos dele e mais nada, agora ser esposa dele no papel tudo
certinho aí não podia.
Lélia passou por um processo de embranquecimento desde
sua infância e lutar contra isso nunca foi algo fácil, até porque notar isso
também não foi fácil, porém, com muita luta, muitos estudos, determinação e
vontade ela conseguiu coisas incríveis. Lélia se graduou em História e
Filosofia, fez pós-graduação em Comunicação e Antropologia, cursos livres em
Sociologia e Psicanálise, foi militante do Movimento Negro, fundadora do
Movimento Negro Unificado e vice-presidente Cultural do Instituto de Pesquisa
das Culturas Negras (IPCN), foi membro do Conselho Diretor do Memorial Zumbi;
Militante da luta contra a discriminação da mulher, primeira mulher negra
eleita uma das “Mulheres do Ano” pelo Conselho Nacional de Mulheres do Brasil
(1981), participou do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher.
Lélia também foi a primeira mulher negra a sair do país
para divulgar a verdadeira situação da mulher negra brasileira, foi
vice-presidente do 1º e do 2º Seminário da ONU sobre a “Mulher e o apartheid’’
(Montreal-Canadá e Helsinque-Finlândia, 1980). Lélia teve várias outras
participações em diversos eventos, fora toda sua trajetória como autora de
artigos tanto no Brasil como no exterior.
O intuito de falar sobre Lélia Gonzales não é apenas
mostrar a luta de uma mulher negra, que sofreu com o embranquecimento existente
nessa sociedade, mas também mostrar como ela conseguiu feitos incríveis não
apenas para o tempo em que estava vivendo como também incentivando nós
mulheres, negras, indígenas e brancas a lutarmos pelo que acreditamos, aceitarmos
quem realmente somos e lutarmos por isso. Que sejamos capazes de ter um
pouquinho da força desta grande mulher que Lélia foi e ainda é em seus textos,
entrevistas e etc.
Texto de Wânia Fagundes
CULTNE ACERVO. CULTN – Lelia Gonzalez – 1981. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=dYbXevFB0xI>. Acesso em: 05 out. 2021.
GONZALEZ, Lélia. A categoria político-cultural de amefricanidade. In: Tempo Brasileiro. Rio de Janeiro, Nº. 92/93 (jan./jun.). 1988, p. 69-82.
GONZALEZ, Lélia. Racismo e Sexismo na Cultura Brasileira. In: Revista Ciências Sociais Hoje, Anpocs, 1984, p. 223-244.
RATTS, Alex; RIOS,
Flavia. Lélia Gonzalez. São Paulo. Selo Negro/Summus, 2010;