Esperançar na pedagogia: o legado de Bell Hooks

 


    No complicado ano de 2021 nos despedimos de Bell Hooks, uma das maiores referências do pensamento feminista negro. Intelectual, militante e grande comunicadora, Hooks semeou reflexões indispensáveis sobre o modelo de sociedade que almejamos construir.
    Dentre as inúmeras contribuições, destacamos seu legado no campo da pedagogia, com diversos debates essenciais para uma educação emancipatória, a partir da obra Ensinando a transgredir: a educação como prática libertadora.
    Na epígrafe da referida obra Bell Hooks traz uma citação de Paulo Freire:

“Ser capaz de recomeçar sempre, de fazer, de reconstruir, de não se entregar, de recusar burocratizar-se mentalmente, e entender e de viver a vida como processo, como vir a ser...”
    A admiração pelo educador, patrono da educação brasileira, parte do consenso de que ensinar e aprender deve ir além da memorização de conteúdos. Segundo a autora estadunidense é preciso fazer da Escola um espaço comunitário onde práticas opressoras sejam desnaturalizadas e superadas, o que aumenta a probabilidade de esforço coletivo para a sedimentação de um aprendizado também comunitário, no qual alunos e professores ensinam e aprendem.

    Tal reflexão é contextualizada por Hooks em sua própria trajetória escolar, marcada pela segregação racial e gradual dessegregação. Quando frequentava a escola Booker T. Washington, destinadas a alunos negros, a autora pode vivenciar ambiente onde aprendizado era sinônimo de revolução, por se tratar de instituição onde a maioria dos professores eram mulheres negras, as quais acreditavam que educar era um ato político, contra-hegemônico.

    A possibilidade de alunos brancos e negros frequentarem a mesma escola trouxe novos desafios ao enfretamento do racismo estrutural, tendo em vista que em tais escolas o ensino se baseava em práticas opressoras, nas quais os alunos não passavam de meros “receptores do conhecimento”. Nesse espaço aparentemente diverso a escola concentra-se na perpetuação de uma sociedade opressora, inclusive no que tange ao racismo.
    Por essa razão, a autora enfatiza a necessidade de que as instituições de ensino façam da Educação uma prática da liberdade. Contudo, enfatiza a necessidade de se fazer da Escola um lugar também atrativo, algo que demanda ação conjunta entre professores e alunos, tendo em vista que “O entusiasmo é gerado pelo esforço coletivo”. (Hooks, p. 18, 2013).
    Com essa breve abordagem esperançamos por um 2022 em que o ato de ensinar seja, como nos ensina Bell Hooks, um ato teatral, catalisador da participação ativa e engajada da comunidade escolar pela superação de todas as opressões.
 
Referência bibliográfica
HOOKS, Bell. Ensinando a transgredir: a educação como prática da liberdade. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2013.