Mas quando se trata do fazer Histórico, tais verdades são comumente colocadas à prova, por meio de uma análise em perspectiva. A noção de sincronia do tempo histórico é a forma como comparamos e avaliamos épocas, práticas culturais, dentre outros. Em essência, a ciência tem nos mostrado que a maioria das obras e fundações arquitetônicas do Mundo Helenístico provavelmente eram cobertas por um caleidoscópio, com fachadas brilhantemente coloridas.
Durante séculos, assumimos que as superfícies limpas e brancas das antigas esculturas gregas eram o padrão da beleza; durante o Renascimento, os artistas se esforçaram para imitar essa estética simples em sua própria arte. O Renascimento drenou a cor da Antiguidade, criando um aspecto pálido ao passado. Ainda hoje, esperamos que a bela arte clássica e antiga seja pura e sem adornos – mas Vinzenz Brinkmann e Ulrike Koch-Brinkmann passaram mais de duas décadas provando que estávamos errados.
Os arqueólogos fizeram uso de várias técnicas que vão desde o uso de luz ultravioleta, ranking light de alta intensidade até a espectroscopia infravermelha e de raios-x, para reconstruir muitas das tonalidades e cores predominantes nas estátuas gregas antigas. A primeira dessas reconstruções fez sua estreia em uma exposição realizada em Munique no museu de Liebieghau em 2003.
A idealização do mármore branco foi uma estética nascida de um erro, que no entanto, foi endossada por grupos supremacistas, que viam nelas, a oportunidade de promover teorias racialistas, visando à exclusão de elementos indesejados da sociedade, através da pseudociência chamada de eugenia.
Para esses grupos, o dito período clássico representava uma idealização de um certo "evolucionismo" cultural, que não poderia ser de outra cor, senão branca, representado por um helenismo completamente desbotado, não só através da arquitetura e estatuárias, mas também na própria composição social. Sabe-se que no período antigo aconteciam diversas interações sociais e culturais, como a profusão do Mundo Mediterrâneo, que conectava a África, o Oriente Próximo e a Europa, assim, a Grécia imaginada não poderia ter existido, e como diria Sarah Bond¹, precisamos enxergá-la em cores.
Na máquina do tempo da História, podemos dimensionar parte dessa Antiguidade Grega, através das pesquisas científicas e de trabalhos de reconstrução, na tentativa de traçar uma realidade mais verossímil, em cores, desfazendo narrativas outrora construídas ideologicamente como projeto de poder.