Fitter Happier



Ok Computer, obra de 1997, marcou uma virada de chave para a banda de rock britânica RadioHead, ao incorporar elementos eletrônicos e investir em faixas mais experimentais. O terceiro álbum examina o tema da alienação social na sociedade moderna. 


Creepy, weirdo. A estranha sonoridade que emana de “Fitter Happier” explora como chegamos ao estranhamento emocional e as consequências de permitir tal fato. A faixa é desconfortável e confusa num primeiro momento.


A excentricidade mora na não associação do vocal habitualmente entoado por um falante de origem humana. A combinação de sons e ritmos, reside em um intermédio entre um recital e o canto, subvertida e encenada por uma voz sintética, robotizada, sem emoção, ditas por um Macintosh.


A produção está inserida no contexto da década de 90 do século passado, em que os países do Norte Global viveram a consolidação e popularização dos computadores pessoais, tornando estes, itens de consumo doméstico, acessíveis às pessoas comuns como instrumentos de trabalho e de lazer.

 

A canção descreve o estilo de vida idealizado do indivíduo produtivo, feliz, gentil com todos os animais, em forma. À medida que a música progride, o ouvinte está supostamente se tornando cada vez mais ideal, aperfeiçoado. Perde-se a voz, cai a fronteira entre o real e o virtual, o indivíduo torna-se embotado. O encantamento pelo novo mundo seduz e captura os sujeitos, que se tornam reféns de uma realidade paralela, formada predominantemente por representações do “real”. Não precisamos de contato humano, não precisamos mais nos comunicar.

 

Soa familiar?

Alexa, quais são minhas tarefas de hoje?

 

As palavras da canção tornam-se mais sinistras, negativas e tristes à medida que toca, sugerindo que ainda falta algo neste estilo de vida "ideal". O locutor diz estar "preocupado, mas impotente", ainda revela que não pode fazer nada. Essa passagem relembra a icônica frase “I'm sorry, Dave. I'm afraid I can't do that” cena da inteligência artificial Hal 9000, em 2001 uma Odisseia no Espaço, obra de Arthur C. Clarke imortalizada nas telas do cinema por Stanley Kubrick. 


No final, as letras são dominadas por palavras deprimentes como "desesperado", "impotente", "vazio" e "frenético". Por fim, o narrador se auto-proclama como "um porco em uma gaiola com antibióticos". A mudança de tom demonstra que o ouvinte fica menos feliz à medida que se torna mais aperfeiçoado.


Aparentemente, viver o chamado estilo de vida "ideal" é tão desumano que apodrece o sujeito em ostracismo, tornando se um fantasma na concha — conceito que questiona os limites que uma pessoa conseguiria manter-se como humana após trocar partes de seu corpo humano por cibernéticas — apático, vazio, sem sentimentos. Perdemos nossa personalidade e individualidade, nos tornando peças de tubo de ensaio, seres engaiolados usados para o melhoramento da espécie.