Hoje é celebrado o Dia da Consciência Negra, nesta data tão importante relembramos através da música, a obra Milton 1970.
Este
é o quarto álbum de estúdio do músico Milton Nascimento, que conta com as participações
do grupo de rock progressivo Som Imaginário, Dori Caymmi, Lô Borges e Naná
Vasconcelos.
Começando
pela arte da capa dupla. Ao desdobrar o álbum revela o vulto do artista
figurado como um Rei Africano, a vestimenta segue com uma estamparia marcada
por grafismo e multicores (estes são componentes importantes, que fazem parte de
um rico contexto histórico e social do continente africano), produção do
designer Kélio Rodrigues.
O
disco de 1970, representa um marco muito importante no gesto de abertura e incorporação
cada vez mais largo que traça “um caminho sonoro totalmente próprio” que
caracteriza a obra do Clube da Esquina (VILELA, 2010, p.21).
As
canções do LP é uma virada de chave para o cantor de “Travessia”, que adentra
temas sensíveis da sociedade. Fala sobre a morte, o trabalho e conflitos
sociais e políticos. Tudo isso dentro do contexto de Ditadura Militar com o
AI-5 vigente.
Envolto
num intenso trânsito cultural, a sonoridade aqui mostra-se como um grande
experimento no uso multi-instrumentalista que vai de apitos à solos
eletrificados de guitarra. Reuni de forma abrangente a intensidade do rock, a
suavidade da bossa nova, com a improvisação e ritmos sincopados do jazz.
Buscando responder aos desafios impostos aos músicos num
contexto turbulento.
Destaco
“Pai Grande”, como a canção mais simbólica do LP, na qual evoca toda sua
Africanidade. A sinergia da sonoridade trazida de África aqui é acompanhada de
percussão, ocarinas, e diversos timbres, que materializam uma “floresta”
metafórica de sons da diáspora africana.
“Meu
pai grande/quisera eu ter sua raça pra contar/a história dos
guerreiros/trazidos lá do longe (…)”.
O
posicionamento político no enfrentamento do autoritarismo, das injustiças e
desigualdades e da discriminação racial permeia todo trabalho do artista, fazendo da obra conceitual, experimental, forte, denso da capa até a última faixa.
"Não basta não ser racista; é necessário ser antirracista”. Há diversos materiais de apoio na internet, que auxiliam na não reprodução do racismo estrutural, comece por eles.
Referências
VILELA,
Ivan. Nada
ficou como antes. Revista
USP, São Paulo, n.87, p. 14-27, setembro/novembro 2010.